sexta-feira, setembro 22, 2006

(Chico César, em discurso directo):

De uns tempos pra cá me tornei um artista razoavelmente conhecido em alguns circuitos, dentro do meu país e fora dele. À minha revelia, mas também com minha anuência, determinados aspectos da música que faço se tornaram mais visíveis que outros. Não é que eu queira me queixar. Nem poderia, num momento em que uma das principais queixas de muitas pessoas (artistas inclusive) é a invisibilidade. Não de partes. Mas a invisibilidade total delas, e de sua produção. Ser em parte conhecido, visível, ou conhecido em partes já aparenta alguma vantagem. Principalmente quando se tem, quando se criam ou se conquistam as condições de iluminar o que antes já existia, mas não podia ser percebido em plenitude. Ou era simplesmente ignorado.
É o que acontece comigo agora com o lançamento deste De uns Tempos pra Cá, ao qual me entreguei com a alegria e a inquietação que apenas a liberdade criativa possibilita. Retribuí o convite da Biscoito Fino com canções e interpretações estritamente autorais e que só poderiam estar neste disco. Em nenhum outro, apesar das músicas já existirem muito antes que ele fosse imaginado. O desejo de gravá-las neste formato camerístico com o inquieto Quinteto da Paraíba é que norteia o disco.
De uns tempos pra cá se passaram 10 anos do “Aos Vivos”, meu primeiro disco. De uns tempos pra cá já são 20 anos de Sudeste pra mim. Mas mesmo antes disso o disco começa. A canção “Utopia”, por exemplo, é do princípio dos anos 80. Do meu tempo da faculdade de jornalismo em João Pessoa na Universidade Federal da Paraíba. Época de greves e passeatas. Que eu me lembre é uma espécie de comentário irresignado sobre a não-aprovação das eleições diretas para presidente pelo Congresso Nacional.
A melodia de “Por Causa de um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 anos” é ainda anterior: de 1983. E o título eu roubei mais tarde de uma manchete do jornal “O Dia” sobre o primeiro Rock in Rio, ao passar pela capital carioca no começo de 1985. Morava em Barra Mansa e estava a meio caminho para São Paulo. A letra é bem recente, deste ano. Convidei duas importantes e fundamentais influências que a paraibanidade me proporcionou: Elba Ramalho e Pedro Osmar. Ela: musa agreste, retirante, vidente, incômoda em sua nordestinidade. Ele: quase invisível, multiartista a insuflar inquietação e sede de contemporaneidade sem peias a seus pares há três décadas.
“Pra Cinema” é uma melodia do fim dos anos 80. Eu já morava então em São Paulo e estudava na escola do Zimbo Trio, a convite do pianista Amílton Godói. A versão instrumental de “Autumm Leaves” começou a nascer nessa época, dos estudos com o violonista argentino Conrado Paulino. A letra é de 2004. Passou a se chamar “Outono Aqui”, por sugestão do cantor paulistano Carlos Fernando, que também corrigiu-me a respeito da excessiva melancolia nordestina em relação ao outono.
De uns Tempos pra Cá tem em comum com outros álbuns meus o fato de que nenhuma canção foi feita pro disco em si. “Alcaçuz” é de 1998 e já foi gravada por Vânia Abreu. “Orangotanga” é de 2000 e deu nome a uma turnê européia. Quem faz a percussão aí é meu amigo de infância Escurinho, pernambucano radicado na Paraíba desde criança. “Moer Cana”, “Por que você não vem morar comigo” e a canção-título são de 2003. A canção mais recente é “1 valsa p/ 3”, a única em parceria, com letra minha sobre melodia de Chico Pinheiro.
“A nível de”, uma das minhas preferidas entre as muitas parcerias de João Bosco e Aldir Blanc, eu já havia gravado pro songbook de João Bosco a convite do saudoso Almir Chediak. Mantive “aquela guitarra” que João gostou tanto e fiz uma nova voz. Proveta e sua turma deram um banho com os únicos metais do disco. E aí está. O ano passado, a TV Educativa do Rio me convidou para cantar “Cálice”, de Gilberto Gil e Chico Buarque, num show com músicas que tiveram problemas com a censura na época da ditadura militar. Decidi regravá-la. É doloroso perceber que esta canção não perdeu atualidade.
Mesmo de tons mais densos, não é de melancolia que quer falar o disco. Mas ela está aí. Pra mim é como se ele começasse escuro, numa sessão maldita de cinema à meia-noite. Atravessa uma longa madrugada, clareia aos poucos e termina encandeiado de sol tropical ao meio-dia, numa mistura de feijoada e rave. Claro que não é a única leitura possível, e essa talvez seja otimista demais. É na verdade como ele nasceu em mim e aí tomou corpo, de uns tempos pra cá.

“De uns Tempos pra Cá”
CHICO CÉSAR / QUINTETO DA PARAIBA
31 Outubro, terça, 21.30, SP
www2.uol.com.br/chicocesar
Tashi Lhunpo, fundado pelo primeiro Dalai Lama no século XV, é um dos mais importantes mosteiros na tradição budista tibetana. Agora sedeado em exílio no sul da Índia, o mosteiro mais uma vez promete ser um dos maiores centros de aprendizagem, conhecido sobretudo pela sua tradição artística de danças de máscaras e música sagrada. Neste espectáculo, oito monges Tashi Lhunpo oferecem-nos uma apresentação dramática das suas danças, músicas e orações sagradas, com os seus trajes tradicionais coloridos e máscaras cerimoniais. A actuação será acompanhada por introduções explicativas de cada dança e cântico, oferecendo uma perspectiva da vida no mosteiro e da importância da sua tradição.

“The Power of Compassion”
MONGES TIBETANOS DO MOSTEIRO TASHI LHUNPO
2 Novembro, quinta, 21.30, SP
www.tashi-lhunpo.org.uk

quinta-feira, setembro 21, 2006

Uma das orquestras mais prestigiadas do mundo, a Orquestra Sinfónica Nacional Checa, apresenta-se em Braga estreando em Portugal um programa totalmente dedicado a Nino Rota. O regente destacado será Marcello Rota, seu sobrinho e um dos maestros mais aplaudidos da actualidade. Entre as obras a interpretar estão as bandas sonoras compostas pelo compositor italiano: “O Leopardo” (“Il Gattopardo”), de Luchino Visconti; “Romeu e Julieta” (“Romeo and Juliet”), de Franco Zeffirelli; “O Padrinho” (“The Godfather”), de Francis Ford Coppola; e “Os Inúteis” (“I Vitelloni”), “Amarcord” e “A Estrada da Vida” (“La Strada”) de Federico Fellini.

Compositor: Nino Rota
Maestro: Marcello Rota

Abertura Oficial
Nino Rota e Marcello Rota
ORQUESTRA SINFÓNICA NACIONAL CHECA
27 E 28 Outubro, sexta e sábado, 21.30, SP
www.cnso.cz
É o mais importante virtuoso da guitarra no campo do Jazz instrumental, sendo o guitarrista com mais prémios atribuídos pela prestigiada Guitar Player Magazine. Desde a velocidade e calor dos seus solos no início de carreira, até ao triunfo com Di Meola/McLaughlin/De Lucia (Guitar Trio), os seus discos estiveram sempre entre os mais vendidos.

Guitarra: Al Di Meola
Piano: Mario Parmisano
Percussão: Gumbi Ortiz
Baixo: Anthony Jackson
Baterias: Ernie Adams

Jazz instrumental
AL DI MEOLA
3 Novembro, sexta, 21.30, SP
www.aldimeola.com
Parco della Musica, em Roma; Barbican de Londres; Olympia de Paris – três das melhores salas do mundo a que se junta o Theatro Circo para apresentar “Turning”, um espectáculo assinado por Antony and the Johnsons e Charles Atlas. Quatro datas em exclusivo para a Europa de um espectáculo polémico e belo, onde se destaca a voz do vencedor do Mercury Music Prize de 2005 e senhor de culto em Portugal. Quanto a Charles Atlas, foi recentemente presenteado com o prestigiado John Cage Award pela Foundation for Contemporary Arts e será alvo de uma retrospectiva do seu trabalho para cinema e vídeo na Tate Modern, entre 16 e 20 de Novembro. “Turning” é um evento que combina a música dramática do vencedor do Mercury com um cenário visual intenso da autoria do premiado realizador. O espectáculo apresenta uma simples mas comovente orquestração composta por um trio de cordas, piano, baixo e percussão, bem como uma montagem vídeo de treze beldades nova-iorquinas, cujos retratos íntimos e hipnóticos são capturados, processados e projectados por Atlas em tempo real, enquanto giram lentamente em palco. Através da combinação do processamento de vídeo ao vivo, método inovador de Atlas, com os estilismos vocais de Antony, que foram comparados com os de Nina Simone e Lotte Lenya, “Turning” explora os temas da inocência, metamorfose de género e transcendência num formato visualmente dramático e altamente atraente.

Antony and the Johnsons / Charles Atlas
“TURNING”
10 Novembro, sexta, 21.30, SP
www.antonyandthejohnsons.com

quarta-feira, setembro 20, 2006